"Não sou eu nem o outro, Sou qualquer coisa de intermédio, Pilar da ponte de tédio Que vai de mim, para além do local mais longínquo", onde me mantenho consciente do passado, deste apêndice virtual, quero relatar o presente com o futuro no horizonte" Este espaço não é mais do aquilo, observo e doutra forma não poderia registrar! (...), assim sendo é algo de alternativo, um tentáculo...k qualquer um pode recriar.
domingo, 24 de julho de 2011
Nave Lusitana
Nave espacial Lusitânia.
Diário de bordo.
13 Maio de 2010.
A ditadura parece não ter fim à vista. Leva já um século de existência e parece não querer deixar-se sucumbir, como o devem fazer todas as coisas que estão mortas.
Continuamos à espera de D. Sebastião. Constantemente vemos nevoeiro, mas apenas artificial. Vamos apalpando na penumbra intencionalmente gerada, mas apenas tacteamos o vazio. Da figura altiva e jovem, nem sombra.
Os gestores da ditadura perpetuam a mediocridade do país, apenas lhe modificando a apresentação. Modernizaram-no, é certo, mas não o fizeram evoluir. Globalizaram-no, mas não o consolidaram. E as gentes, a alma da nação, permanecem na Idade Média, nas profundezas das trevas, como cópias perfeitas de Gollum.
O povo continua burro, feio, desdentado, primitivo, sempre pronto a beijar a mão de quem lhe oferte umas migalhas e sempre pronto, também, a cuspir nessa mesma mão após a barriga proeminente estar satisfeita.
A lógica dos "F" prolonga-se: Fado, Futebol e Fátima. E mantém-se eficaz. Três poderosos opiácios que adormecem e dão prazer às hostes gordas, labregas e incultas. O Fado agora chama-se Samba, o Futebol é Show de Bola e Fátima fartou-se do casebre humilde onde nasceu e mudou-se para um luxuoso condomínio privado.
Os gestores modernizaram-se também. As figuras sorumbáticas e cinzentas metamorfosearam-se em borboletas de cores garridas e berrantes. As barracas dos emigrantes de primeira geração, que infelizmente resolveram ficar, são agora guetos de cimento, fábricas mostruosas que produzem em série criminosos e meliantes de toda a espécie que agora são protegidos pelos gestores coloridos que se alimentam da sua carne podre. Excentricidades de quem tem poder e gosta de apreciar pequenas iguarias gourmet...
As artes também se modernizaram. Quem não sabe cantar grava discos e tem sucesso, quem sabe vagueia no "underground". Quem não sabe representar é actor de sucesso, quem sabe é elitista.
Os azeiteiros que enriqueceram a roubar, a enganar e a explorar povos mais atrasados ainda, são agora comendadores e têm galerias de arte faraónicas pagas pelos gestores com o dinheiro do povo, que não sabe distinguir um Miró ou um Picasso de uma lata de sardinhas ou de de uma Sagres média.
Dos navios atracados já não sai peixe, mas droga. A terra fresca e pura já não produz o pão que nos alimenta. Foi vendida aos espanhóis que, sorrateira e inteligentemente, nos conquistaram de novo, sem que dessemos por nada.
Em Lisboa Até quando somos assaltados temos que falar uma língua estrangeira para suplicar que não nos matem. Cúmulo da indignação!
Os ladrões andam à solta, a gente honesta é perseguida pelo fisco.
Os assassinos mais nojentos têm a protecção de todo o tipo de associações, quem executa o direito humano mais básico e ancestral, que é a sua própria auto-defesa, vai preso.
Quem trabalha tem obrigações, quem não quer fazer nada tem direitos.
Quem estuda uma vida inteira para se valorizar, não tem emprego, quem nunca quis estudar por malandrice, tem subsídios.
E os gestores, esses, continuam sentados no trono, banqueteando-se faustosamente.
E assim vai a perpétua ditadura.
Aqui na nave somos cada vez menos. Continuamos a sobrevoar o país, mas não nos permitem a aterrissagem. A velhice vai levando aos poucos os combatentes fatigados. Mas continuamos a resistir. Até quando, não sabemos. Alguns de nós ainda têm esperança de ver o fim da ditadura que se arrasta.
Eu já não sei. Mas continuarei a lutar. Até a nave cair ou o país se endireitar
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